THOMAS CAMPBELL: EM BUSCA DO IDEAL DA UNIDADE DE TODOS OS CRISTÃOS
"Que a Igreja de Cristo sobre a terra é essencial, intencional e constitucionalmente uma”.
Thomas Campbell nasceu na Irlanda no dia 01 de fevereiro de 1763 em um lar episcopal anglicano. A sua conversão se deu enquanto estava caminhando pelo campo, orando e cheio de ansiedade. Repentinamente sentiu a paz divina e o amor de Deus como antes nunca tinha experimentado. Suas dúvidas, ansiedades e temores se dissiparam de uma vez, como por encanto¹ .
Após esta experiência optou pelo ministério pastoral. Apesar de uma resistência inicial, seu pai acabou por apoiá-lo. Em 1783, com apenas vinte anos de idade, foi estudar na Universidade de Glasgow, na Escócia, que era um centro de excelência do presbiterianismo. Em 1787 Campbell se casou com Jane Carneigle, descendente de huguenotes franceses, e neste mesmo ano foi ordenado. No ano seguinte nasceu Alexander, seu primeiro filho. Até 1798 foi pastor itinerante, quando assumiu o cargo de pastor na congregação presbiteriana em Ahorey² .
Thomas Campbell era membro de um grupo sectário e rígido chamado Igreja Presbiteriana Pró-Acordo Separatista Anti-Burguesa e de Velha Luz da Escócia. Esse longo e pomposo nome é uma claríssima evidência do legalismo, do autoritarismo e do exclusivismo que imperava entre os cristãos nos final do século XVIII e início do século XIX. Apesar de fazer parte de um grupo sectário como esse, Thomas Campbell, por natureza, possuía um caráter pacífico e ecumênico e tinha relações fraternais com outros cristãos, assunto que lhe causou sérios problemas³ .
No dia 13 de maio de 1807, vindo da Escócia e aos quarenta e cinco anos de idade, Campbell desembarcou nos Estados Unidos e foi morar na Pensilvânia. A sua família ficou na Irlanda aguardando ele se estabilizar. O sectarismo também imperava nos EUA, assim como na Europa. Conta-se que ele, enquanto visitava uma região da fronteira norte-americana, sensibilizado com a falta de igrejas e ministros naquela região, convidava crentes de outras comunhões, e que há muito não se reuniam por causa da ausência de igrejas da sua denominação, a ter comunhão com eles. Ele foi acusado de violar os regulamentos da sua igreja e foi submetido à disciplina “por admitir pessoas de outras denominações à Ceia do Senhor e ensinar que um leigo pode dirigir um culto quando da ausência de ministros”4. Denunciado ao Presbitério de Chartiers apelou ao Sínodo da Filadélfia que o repreendeu. Considerado pessoa non grata em seu Condado, Thomas Campbell renunciou às suas funções ministeriais em maio de 1809.5
No dia 17 de agosto de 1809, juntamente com outros vinte e um presbiterianos formou a Associação Cristã de Washington. Thomas Campbell não queria formar uma nova igreja, mas defender uma reforma da Igreja. A Associação Cristã de Washington era um grupo de voluntários com o único propósito de promover um simples cristianismo evangélico. Tudo isso ficou bem claro na sua própria declaração de propósito6 .
Thomas Campbell foi designado pela Associação Cristã de Washington para escrever um documento onde as razões pela qual ela foi formada. No dia 07 de setembro de 1809 este documento foi lido para os membros e imediatamente foi enviado para o jornal local com o título “Declaração e Discurso”. Na apresentação do texto à Associação, imitando os reformadores zwínglianos suíços de Zurique, disse: "Onde a Bíblia fala nós falamos; Onde a Bíblia cala nós calamos"7 . Segundo Fernando Soto, este documento tem quatro seções:
1) A Declaração, que detalha o propósito e os procedimentos da Associação;
2) O Discurso, a seção mais importante onde estabelecem treze proposições para unir os cristãos e exorta-os a aplicá-las;
3) Apêndice, que explica os vários tópicos do Discurso e se adianta a possíveis objeções;
4) Epílogo, que muito brevemente oferece algumas sugestões para futuros eventos8 .
Fernando Soto afirma ainda que, infelizmente, a “Declaração e Discurso” não é conhecido pela maioria dos irmãos do nosso Movimento, apesar de ser um documento inicial do mesmo9 . Talvez tenha contribuído para isso o fato da “Declaração e Discurso” ser um longo documento de sessenta e cinco páginas, escrito em um inglês antigo e formal e com longos parágrafos. Todavia, uma versão resumida em português traduzida pelo autor deste artigo já está disponível para os irmãos no site brasileiro do Movimento de Restauração (www.movimentoderestauracao.com). No entanto, confira abaixo as famosas Treze Proposições, extraídas da "Declaração e Discurso":
"Que ninguém pense que as proposições, que apresentaremos a seguir, têm sido elaboradas como a abertura de um novo credo ou norma para a igreja ou como tenham sido delineadas como requisitos obrigatórios de comunhão. Isso está muito distante da nossa intenção. Essas preposições estão unicamente destinadas a abrir o caminho pelo qual podemos transitar cômoda e firmemente para terreno firme, baseados em premissas claras e seguras, retornando todas as coisas aonde os apóstolos lhes desejaram.
1. Que a igreja de Cristo sobre a terra é essencial, intencional e constitucionalmente uma. Ela se compõe dos que em todo lugar confessam sua fé e obediência a Cristo, em todas as coisas e de acordo com as Escrituras. Eles se manifestam através de seus temperamentos e condutas. Só esses podem ser chamados, própria e verdadeiramente, cristãos.
2. Que não deve haver divisão na comunhão nem rupturas na fraternidade das igrejas, ainda que a igreja de Cristo deva existir em congregações separadas, geograficamente distintas e independentes umas das outras.
3. Que só podem se tomar como requisitos de comunhão ou artigos de fé aquelas matérias ensinadas expressamente e ordenadas aos cristãos na Palavra de Deus.
4. Que o Novo Testamento é o manual perfeito para a adoração e o governo da igreja neotestamentária. Assim como o Antigo Testamento foi uma regra de adoração, disciplina e governo da igreja judia daquela época, assim hoje o Novo Testamento chega a ser a regra perfeita para as responsabilidades dos membros da igreja.
5. Que nenhuma autoridade humana tenha o poder de criar leis para a igreja ou alterar as que têm sido dadas no Novo Testamento.
6. Que o que infere ou se deduz das Escrituras nunca deve se tomar como requisito de comunhão ou parte do credo da igreja, ainda que aos que as descubram lhes pareçam muito certas.
7. Que os sistemas de teologia, embora tenham um lugar útil na Igreja, não devem ser impostos como requisitos de comunhão aos cristãos, já que todos não têm plena compreensão dessas matérias.
8. Que a salvação não depende do conhecimento teológico, senão em reconhecer sua necessidade de salvação em Jesus Cristo. Isso, acompanhado de uma confissão de sua fé e obediência a ele.
9. Que os têm cumprido com o anterior deveriam amar a todos os irmãos, filhos na mesma família do Pai, como membros do mesmo corpo. Que nenhum homem se atreva a separar o que Deus tem unido.
10. Que a divisão entre os irmãos é anticristã, anti-escritural e produz confusão e toda obra má.
11. Que as causas das divisões são o esquecer a vontade de Deus e a prática, de parte dos líderes, de uma autoridade arrogante.
12. Que tudo o que é necessário para reformar a Igreja se resume em três delineamentos: retornar ao modelo bíblico de receber membros na igreja; desenvolver um ministério que seja fiel a Palavra de Deus e que as ordenanças divinas sejam restauradas a sua maneira original.
13. Que quando não se encontre na Bíblia uma revelação ou ordem explícita acerca de algum assunto, então que se possa adotar um precedente inferior a título de recurso humano, para evitar a divisão e a contenção na igreja".
No dia 29 de setembro de 1809, depois de cinqüenta e oito dias no mar, a família de Thomas Campbell desembarcou em Nova York. Ao saber disso, Campbell foi ao seu encontro. Somente no dia 19 de outubro ele pôde abraçar sua esposa Jane e seus filhos: Alexander, agora com 21 anos, Dorothea (16 anos), Nancy (13 anos), Jane (09 anos), Thomas (06 anos), Archibald (04 anos) e Allecia (02 anos)10 .
Como já dissemos acima, a intenção dos “reformadores” não era começar uma igreja, mas em 04 de maio de 1811 a Associação Cristã de Washington foi transformada na Igreja em Brush Run. Ela começou com trinta membros, quatro diáconos, um pastor – Thomas Campbell – e a Alexander Campbell deram a licença de pregador. Seu primeiro culto público foi realizado em 05 de maio de 1811, já celebrando a Ceia do Senhor. Esta congregação era uma igreja local independente e essa é uma característica inviolável das Igrejas de Cristo. E adotaram como lema a frase “Onde a Bíblia fala, nós falamos; Onde a Bíblia cala, nós calamos”. Segundo LeRoy Garrett em um artigo publicado no Restauration Review11, Thomas Campbell permaneceu calvinista em sua teologia.
Thomas Campbell se dedicou à pregação da Palavra e visitas às Igrejas de Cristo. Viajou até os 83 anos de idade. As igrejas o recebiam com alegria o venerável mestre, que era universalmente reconhecido como a personificação de todas as graças cristãs12 . No dia 04 de janeiro de 1854, três anos depois de perder a visão, Thomas Campbell dormiu no Senhor aos 90 anos de idade.
No dia 17 de agosto de 1809, juntamente com outros vinte e um presbiterianos formou a Associação Cristã de Washington. Thomas Campbell não queria formar uma nova igreja, mas defender uma reforma da Igreja. A Associação Cristã de Washington era um grupo de voluntários com o único propósito de promover um simples cristianismo evangélico. Tudo isso ficou bem claro na sua própria declaração de propósito6 .
Thomas Campbell foi designado pela Associação Cristã de Washington para escrever um documento onde as razões pela qual ela foi formada. No dia 07 de setembro de 1809 este documento foi lido para os membros e imediatamente foi enviado para o jornal local com o título “Declaração e Discurso”. Na apresentação do texto à Associação, imitando os reformadores zwínglianos suíços de Zurique, disse: "Onde a Bíblia fala nós falamos; Onde a Bíblia cala nós calamos"7 . Segundo Fernando Soto, este documento tem quatro seções:
1) A Declaração, que detalha o propósito e os procedimentos da Associação;
2) O Discurso, a seção mais importante onde estabelecem treze proposições para unir os cristãos e exorta-os a aplicá-las;
3) Apêndice, que explica os vários tópicos do Discurso e se adianta a possíveis objeções;
4) Epílogo, que muito brevemente oferece algumas sugestões para futuros eventos8 .
Fernando Soto afirma ainda que, infelizmente, a “Declaração e Discurso” não é conhecido pela maioria dos irmãos do nosso Movimento, apesar de ser um documento inicial do mesmo9 . Talvez tenha contribuído para isso o fato da “Declaração e Discurso” ser um longo documento de sessenta e cinco páginas, escrito em um inglês antigo e formal e com longos parágrafos. Todavia, uma versão resumida em português traduzida pelo autor deste artigo já está disponível para os irmãos no site brasileiro do Movimento de Restauração (www.movimentoderestauracao.com). No entanto, confira abaixo as famosas Treze Proposições, extraídas da "Declaração e Discurso":
"Que ninguém pense que as proposições, que apresentaremos a seguir, têm sido elaboradas como a abertura de um novo credo ou norma para a igreja ou como tenham sido delineadas como requisitos obrigatórios de comunhão. Isso está muito distante da nossa intenção. Essas preposições estão unicamente destinadas a abrir o caminho pelo qual podemos transitar cômoda e firmemente para terreno firme, baseados em premissas claras e seguras, retornando todas as coisas aonde os apóstolos lhes desejaram.
1. Que a igreja de Cristo sobre a terra é essencial, intencional e constitucionalmente uma. Ela se compõe dos que em todo lugar confessam sua fé e obediência a Cristo, em todas as coisas e de acordo com as Escrituras. Eles se manifestam através de seus temperamentos e condutas. Só esses podem ser chamados, própria e verdadeiramente, cristãos.
2. Que não deve haver divisão na comunhão nem rupturas na fraternidade das igrejas, ainda que a igreja de Cristo deva existir em congregações separadas, geograficamente distintas e independentes umas das outras.
3. Que só podem se tomar como requisitos de comunhão ou artigos de fé aquelas matérias ensinadas expressamente e ordenadas aos cristãos na Palavra de Deus.
4. Que o Novo Testamento é o manual perfeito para a adoração e o governo da igreja neotestamentária. Assim como o Antigo Testamento foi uma regra de adoração, disciplina e governo da igreja judia daquela época, assim hoje o Novo Testamento chega a ser a regra perfeita para as responsabilidades dos membros da igreja.
5. Que nenhuma autoridade humana tenha o poder de criar leis para a igreja ou alterar as que têm sido dadas no Novo Testamento.
6. Que o que infere ou se deduz das Escrituras nunca deve se tomar como requisito de comunhão ou parte do credo da igreja, ainda que aos que as descubram lhes pareçam muito certas.
7. Que os sistemas de teologia, embora tenham um lugar útil na Igreja, não devem ser impostos como requisitos de comunhão aos cristãos, já que todos não têm plena compreensão dessas matérias.
8. Que a salvação não depende do conhecimento teológico, senão em reconhecer sua necessidade de salvação em Jesus Cristo. Isso, acompanhado de uma confissão de sua fé e obediência a ele.
9. Que os têm cumprido com o anterior deveriam amar a todos os irmãos, filhos na mesma família do Pai, como membros do mesmo corpo. Que nenhum homem se atreva a separar o que Deus tem unido.
10. Que a divisão entre os irmãos é anticristã, anti-escritural e produz confusão e toda obra má.
11. Que as causas das divisões são o esquecer a vontade de Deus e a prática, de parte dos líderes, de uma autoridade arrogante.
12. Que tudo o que é necessário para reformar a Igreja se resume em três delineamentos: retornar ao modelo bíblico de receber membros na igreja; desenvolver um ministério que seja fiel a Palavra de Deus e que as ordenanças divinas sejam restauradas a sua maneira original.
13. Que quando não se encontre na Bíblia uma revelação ou ordem explícita acerca de algum assunto, então que se possa adotar um precedente inferior a título de recurso humano, para evitar a divisão e a contenção na igreja".
No dia 29 de setembro de 1809, depois de cinqüenta e oito dias no mar, a família de Thomas Campbell desembarcou em Nova York. Ao saber disso, Campbell foi ao seu encontro. Somente no dia 19 de outubro ele pôde abraçar sua esposa Jane e seus filhos: Alexander, agora com 21 anos, Dorothea (16 anos), Nancy (13 anos), Jane (09 anos), Thomas (06 anos), Archibald (04 anos) e Allecia (02 anos)10 .
Como já dissemos acima, a intenção dos “reformadores” não era começar uma igreja, mas em 04 de maio de 1811 a Associação Cristã de Washington foi transformada na Igreja em Brush Run. Ela começou com trinta membros, quatro diáconos, um pastor – Thomas Campbell – e a Alexander Campbell deram a licença de pregador. Seu primeiro culto público foi realizado em 05 de maio de 1811, já celebrando a Ceia do Senhor. Esta congregação era uma igreja local independente e essa é uma característica inviolável das Igrejas de Cristo. E adotaram como lema a frase “Onde a Bíblia fala, nós falamos; Onde a Bíblia cala, nós calamos”. Segundo LeRoy Garrett em um artigo publicado no Restauration Review11, Thomas Campbell permaneceu calvinista em sua teologia.
Thomas Campbell se dedicou à pregação da Palavra e visitas às Igrejas de Cristo. Viajou até os 83 anos de idade. As igrejas o recebiam com alegria o venerável mestre, que era universalmente reconhecido como a personificação de todas as graças cristãs12 . No dia 04 de janeiro de 1854, três anos depois de perder a visão, Thomas Campbell dormiu no Senhor aos 90 anos de idade.
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1 SOTO, Fernando. La Reforma Presente : Literature and Teaching Ministries, 1997 (citando Robert Richardson, Memoirs of Alexander Campbell (Indianapolis, In.: Religious Book Service, 1897. Vol. 1, 23), pág. 38 e 39.
2 Ob. cit., pág. 39.
3 Ob. cit., pág. 40.
4 CHAMPLIN, Russel Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia : Editora Hagnos, 1991, vol. 2, pág. 183 e 184.
5 SOTO, Fernando. La Reforma Presente, pág. 41.
6 HUMBLE, B. J. La Historia de la Restauración, pág. 09.
7 Ob. cit., pág. 09.
8 SOTO, Fernando. La Reforma Presente, pág. 42.
9 Ob. cit., pág. 42.
10 Ob. cit., pág. 54.
11 Restoration Review, Vol. 20, No. 10, dezembro de 1978.
12 SOTO, Fernando. La Reforma Presente, pág. 57.
2 Ob. cit., pág. 39.
3 Ob. cit., pág. 40.
4 CHAMPLIN, Russel Norman. Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia : Editora Hagnos, 1991, vol. 2, pág. 183 e 184.
5 SOTO, Fernando. La Reforma Presente, pág. 41.
6 HUMBLE, B. J. La Historia de la Restauración, pág. 09.
7 Ob. cit., pág. 09.
8 SOTO, Fernando. La Reforma Presente, pág. 42.
9 Ob. cit., pág. 42.
10 Ob. cit., pág. 54.
11 Restoration Review, Vol. 20, No. 10, dezembro de 1978.
12 SOTO, Fernando. La Reforma Presente, pág. 57.
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