Ex-presidente era figura chave no governo da mulher e pré-candidato para sucedê-la
A morte do ex-presidente da Argentina, Néstor Kirchner, volta a colocar incertezas no futuro do país vizinho. Provável candidato à Presidência em 2011, a ausência do líder peronista na cena política argentina joga todo o peso do governo sobre sua mulher, a atual mandatária Cristina Kirchner, com quem sempre dividiu o poder.
Para o coordenador do Instituto de Estudos Econômicos e Internacionais da Unesp, o argentino Luis Fernando Ayerbe, “a morte de Kirchner é um impacto pessoal e familiar para a presidente [Cristina] e afetará também o governo”.
- O peso dele era muito importante nas decisões do governo. A morte vai gerar um vácuo. A gente não tem a experiência dela governando sozinha. O grande dilema é como será o governo só com Cristina.
Eleito presidente em 2003, o até então discreto governador da distante Província patagônica de Santa Cruz herdou um país arrasado pela crise econômica de 2001.
Com Kirchner, a Argentina voltou a crescer e a recuperação deu a ele 60% de aprovação, responsáveis pela eleição inédita de sua mulher, a então senadora Cristina, em 2007.
Para Ayerbe, “a morte de Kirchner deve gerar inicialmente uma certa unidade em torno da presidente”. Se antes os dois dividiam o poder, Cristina agora governará sozinha. Segundo o professor, ela se torna a mais provável candidata às eleições de 2011.
- Cristina é uma pessoa com muita experiência política. Fora o abalo natural que ela terá, deve retomar o governo e dar-lhe um tom mais pessoal.
“Kirchner contribuiu para o bem e para o mal”, diz acadêmico
Para o professor de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC, Giorgio Romano, ainda é difícil dizer com precisão o que pode ocorrer na Argentina, país onde “as coisas mudam do dia para a noite”.
- Há alguns meses, ninguém cogitava que Kirchner pudesse voltar a ser presidente. A popularidade do casal estava muito baixa. Mas com a recuperação da economia e a divisão da oposição, Kirchner voltou a ser o principal candidato para a sucessão de Cristina.
Para Romano, a Argentina vive um momento econômico relativamente bom, apesar da inflação crescente. Ele diz também que “Kirchner contribuiu para o bem e para o mal” do país, lembrando o papel crucial do ex-presidente após a crise de 2001 e as várias polêmicas nas quais se envolveu.
- Não há dúvidas que os dois tinham um projeto político comum, que era se manter no poder. A morte do Kirchner coloca agora uma pressão muito grande sobre a Cristina.
Romano lembra, no entanto, que é ainda cedo para saber se Cristina “conseguirá capitalizar a liderança do marido”, para se fortalecer e enfrentar as próximas eleições.
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